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“Babel”: o choque entre mundos

The Tower of Babel - Pieter Bruegel / ReproduçãoBabel, na Bíblia, é uma metáfora da ambição humana. Segundo consta, a torre de Babel teria sido construída pela humanidade para alcançar o céu. Deus, enfurecido com a pretensão, fez com que cada pessoa falasse uma língua diferente, o que confundiu todos. Assim pôs fim ao projeto e espalhou um povo desunido pelo planeta.

Explorar essa metáfora nos dias atuais é o que pretende Alejandro González Iñárritu em “Babel”. Candidato favorito a tudo-que-é-prêmio, o filme do momento está abocanhando estatuetas. Ganhou o Globo de Ouro de melhor drama e Alejandro ganhou o prêmio de melhor direção no Festival de Cannes, o que torna os dois fortíssimos candidatos ao Oscar 2007.

Créditos: DivulgaçãoAs histórias que compõem o enredo são basicamente três e tratam desta incomunicabilidade, deste choque entre mundos diferentes. A primeira e mais bem sucedida conta a viagem de Richard (Brad Pitt) e Susan (Cate Blanchett), um casal de turistas americanos que tenta salvar seu casamento. Enquanto viajam em um ônibus turístico no Marrocos, Susan leva um tiro. Na tentativa de salvar a vida da esposa, Richard leva o ônibus para um vilarejo, onde esperam por socorro.

Esse fato une os outros dramas: a história dos filhos do casal, que são levados ao méxico pela babá; e de uma jovem japonesa surda-muda, que enfrenta os preconceitos e as dificuldades de sua condição na sociedade.

O que dá pra perceber aí –não quero contar muito mais para não estragar a diversão que quem ainda não viu–, é um tema interessante e uma forma arrojada, que mantém uma linha de estilo do diretor com características já trabalhadas em outros filmes, como a idéia de destino, de infelizes coincidências e o embaralhamento das linhas de ação.

Créditos: DivulgaçãoNo entanto, “Babel” não consegue ser tão original ou ousado como “Amores Brutos” ou impactante como “21 Gramas”. Nos filmes anteriores, além de uma boa estética, o tratamento dado ao tema foi profundo, mostrando muito mais do que apenas os dois lados de um conflito. É aí que Alejandro parece escorregar um pouco. A superficialidade que marca “Babel” se torna explícita quando há conclusões demasiadamente maniqueístas a favor dos menos favorecidos.

O engraçado disso é que, no “primeiro mundo”, o impacto almejado por Alejandro para seu filme funcionou. A idéia de que existem diversos mundos (inclusive internos), diversas culturas, e que elas não são necessariamente uma ameaça, parece ser novidade para eles. Aí há méritos da direção: a forma como o diretor cria identificação com seus personagens, como coloca o público para ver por meio de outros olhos deles, é exepcional.

Créditos: DivulgaçãoFora isso, tenho uma frase de Alfred Hitchcock que pode servir de lição para Alejandro: “A duração de um filme deveria se medir pela capacidade de tolerância da bexiga humana”. O filme é muito longo (2h20). Metade do público sai diretamente da exibição para o banheiro. Como bem colocado em outra resenha que vi por aí (não me recordo onde), vinte minutos a menos fariam muito bem ao filme.

2 comentários em ““Babel”: o choque entre mundos”

  1. Engraçado, a minha irmã caçula também falou que achou o filme “razo” (ou seria raso?).

    Eu não consegui chegar a esse nível de análise, talvez por ter perdido tempo de mais entretido com a atriz japonesa.

    Bom, talvez eu não sirva como crítico de cinema 😛 ahahaha

    Abraços!

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