Um título pomposo para uma despretensiosa entrevista com Samir Mesquita sobre os microcontos
Hoje não faz mais sentido dizer que literatura é somente o que está em livros. Nem que os textos devem ser longos. Há muita coisa boa em outros lugares, formatos e tamanhos. Os minicontos (também chamados de micro ou nanocontos) são ótimos exemplos. Gênero minimalista, os textos que entram nessa classificação são curtos ou curtíssimos (50 letras!) onde o que importa é contar uma boa história. Prato cheio para tempos de internet.
Já dizia Julio Cortázar que, na literatura, o romance vence o leitor por pontos, enquanto o conto ganha por nocaute. No caso dos minicontos, isso acontece rápido. Só o que fica, nesse gênero, é o punch fatal do conto. Sua parte mais essencial.
Dizem que o gênero, mais amplamente chamado de micronarrativas ou até microrelatos, nasce em 1959 com a publicação do minitexto (menos de 50 letras!) clássico do autor hondurenho Augusto Monterroso, no livro “Obras Completas”: “Quando acordou o dinossauro ainda estava lá”. No nosso país, o marco-zero é atribuído ao curitibano Dalton Trevisan, com o livro “Ah, é?”, em 1994. De lá para cá, muita gente já praticou essa arte de concisão.
Um desses escritores é Samir Mesquita. Publicitário, com 26 anos, nasceu em Curitiba (PR), foi criado em Alfenas (MG) e atualmente reside e trabalha em São Paulo. “Sempre fui um cara de poucas palavras”, se justifica. Em 2007 Mesquita lançou o livro “Dois Palitos”, que vem dentro de uma caixa de fósforos. Há uma versão do livro também disponível na internet, com fósforos virtuais e alguns textos. Mesquita publica também via twitter.
Nessa breve entrevista, Mesquita fala um pouco mais sobre o gênero e comenta sobre seu livro.
Literatura tem tamanho? É possível fazer um conto via twitter, com apenas 140 caracteres?
Para mim, literatura não tem tamanho, formato ou lugar para acontecer. Tem que comunicar. Tendo qualidade, tudo vale.
O que é mais importante no microconto? O que é um bom microconto?
O mais importante não é só usar o mínimo de palavras. Mas o microconto tem que funcionar como narrativa. Ter início, meio e fim. Muitas vezes alguma ou algumas dessas partes estão na sombra e aí é o que leitor completa a história. Esses são os melhores.
Como nasceu a idéia do livro “Dois Palitos”? Está fazendo sucesso?
Foi assim: num estalo. Comecei a escrever microcontos (no caso,com até 50 letras) e fiz uns 80 logo de cara. Pensei: isso dá um livro. Aí veio a idéia do título e logo a do formato. Em dois meses estava na gráfica. Sem delongas. Sem deixar a coisa esfriar. “Dois Palitos” foi lançado em dezembro de 2007, e atualmente está na terceira tiragem com quase 2 mil exemplares vendidos.
E como é o livro?
“Dois Palitos” é um livreto que vem dentro de uma caixinha de fósforo de verdade. Todos os exemplares têm a mão do autor, já que sou eu que tiro os palitos, troco o rótulo e depois faço os pacotinhos com 10 unidades para distribuir para as livrarias. E o preço também é micro: R$10,00.
Como começou a escrever microcontos? Por quê?
Não conhecia os microcontos até que entrei numa oficina literária coordenada por Marcelino Freire. Foi o exercício da primeira aula. Na segunda, já levei o livro praticamente pronto. Comecei e não parei mais.
Você faz alguma diferenciação entre mini, micro e nanocontos? Isso importa de alguma forma?
Não faço diferenciação e não me importo com isso. O importante para mim é só como dá para se contar uma história com o mínimo de palavras.
Quais as dicas que você dá para quem quer escrever microcontos. Tem algum método? Como começar?
Quem quer começar escrever micros, contos, poesias ou romances não tem outro jeito: escrever, reescrever, reescrever e reescrever. Deixar apenas o necessário para não encher o saco do leitor.
Quais são seus próximos projetos?
Estou tocando três projetos. Todos com mais de 50 letras e nenhum com forma de um livro tradicional.
Para saber mais: Portal dos Microcontos; Site do livro “Dois Palitos”
A idéia do microconto (ou variantes) não é de se deixar de lado. Penso na dificuldade de se conseguir manter a concisão de uma história, deve ser difícil nesse caso. Acredito que a qualidade seja melhor. E depois, a modernidade caminha para a short history. Ótima entrevista.
Que bom que gostou Paulo. O as micronarrativas são realmente um gênero difícil e infelizmente pouco valorizado. Iniciativas como a de Samir Mesquita podiam ser mais freqüente com o devido apoio. É um pouco disso que tento fazer aqui.
e o que ele faz com os fósforos?
2000×40=80000
quer dizer, ele deve ter mais fósforos em casa do que tem letras no livro dele, hehe.
falando sério agora: muito bacana a idéia, o projeto e a entrevista.
@Lívia: Hahahahaha. Ótima pergunta! Vou transmitir para ele….
Obrigado pelo elogio, mas pelo jeito você é que deveria ter sido a entrevistadora. Beijos