[Crônica originalmente publicada no Viver Bem de domingo (30)]
Comecei a usar só de vez em quando. Era algo bastante esporádico e não fazia mal. Uma brincadeira inocente. Todo mundo estava usando. Logo comecei a repetir com mais frequência até chegar no momento em que não conseguia mais ficar sem. Todas as frases terminavam com um irritante “né?!”.
Atribuo a culpa do vício – sim, pois é repetitivo, causa prejuízo à norma culta da língua e à minha imagem como jornalista – a um amigo que soltava a expressão sempre após uma afirmação quase óbvia de outra pessoa, em um tom meio de exclamação, meio de interrogação, levando a um sutil sarcasmo muitas vezes. Além desse uso, grudei o “né!?” ao fim das minhas próprias frases. E, sim, já cheguei a escrever a bendita em alguns textos aqui do jornal.
Agora estou melhor. Me policio sempre. Procuro evitar o primeiro deslize. Mas de vez em quando… né!? Pensei que poderia até existir um grupo de ajuda para largar dos vícios de linguagem. Poderia se chamar “Nés Anônimos”, nesse caso específico, ou “Plebeístas Anônimos”, para gírias em geral.
Mas esse não é o único vício ao qual sucumbi recentemente. Uma amiga me apresentou o “certo”, que ela usava também de forma solta após frases dos outros. Era uma confirmação e, muitas vezes, uma ironia. A frequência era tanta que resolvi, só por birra, emendar um “mano” após cada “certo” que ela soltava, né?! De tanto “tirar sarro” peguei o vício também.
Isso para não falar do tal do “super”, usado para aumentar tudo. “Foi superdivertido”, ou só “foi super” são as variantes mais básicas. Mas a tal da aumentação fica maior sempre que se repete. De repente vira um “super-amei”, “super-adorei”, e já ouvi até “super-super” e “super hiper mega”. Vai faltar superlativo no dicionário.
Mas essas drogas não são de hoje. Há alguns anos os vícios eram outros, mas existiam. O “tipo assim”, que se converteu em apenas “tipo”, era tão repetido que tinha quase função de vírgula nas frases. E isso tudo só para comentar o que se fala. Aquilo que se escreve, principalmente na internet, é bem mais forte e vicia muito mais: “Atórõn a phraze”, “cerumano”, “BFFs”, #comofas e por aí vai. E, tipo, é assim que supercaminha a língua brasileira, né?! Certo.
#beijomeliga
Luís Celso Jr. é jornalista e um cara bastante influenciável.
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Tipo, acho superdigno vc escrever sobre isso.
Tba cho que esses vícios se apegam no cerumano, e a pior parte é que não estamos forecer alone nessa.
Todos chora…
=p
olha uma que to tentando me livrar: é uma pessoa falar algo e eu concordar usando “bem dessa mesmo”.bjuss
Muito legal escrever sobre isto. Mais o pior na minha opinião foi o “tipo assim”, ficou muito popular principalmente entre mulheres que tinham alguma dificuldade para se expressar, quando faltava a palavra a pessoa falava “tipo assim”.
Mas o emblemático mesmo foi o “deslise”, um deslize em si mesmo. Acontece nas melhores famílias!
Olá, Paquale! Isso não foi um deslize, foi um escorregão! Mil perdões. O erro já foi corrigido. Abraços e obrigado pelo comentário