Apesar de confuso e maniqueísta em certos momentos “Tudo por Dinheiro” (Two for the Money, EUA, 2005), lançado recentemente em DVD, é um bom filme. Ele tem ritmo, boas imagens e os atores estão bem – destaque, como sempre, para Al Pacino. Mas não dá pra esperar muito além de um divertimento rápido, e para falar a verdade, o filme não tem nenhuma pretensão de ir além disso mesmo.
O tema central é o dinheiro. Trata do capitalismo ao extremo, sem barreiras e corruptor. Nada que brasileiros não estejam acostumados a ver em algumas CPIs por aí. Mesmo assim, o assunto poderia render bem mais… No entanto, chaga-se aí ao campo das conjecturas, em dizer o que o filme poderia ter sido e não o que é. Então, vamos primeiro aos fatos.
Baseado numa história real, e fruto de algumas pesquisas, principalmente com viciados em jogo, o filme possui um enredo simples. Brandon Lang (Matthew Mcconaughey) é um genuíno esportista. Desde muito jovem está no esporte, e o esporte está nele. Isso se reflete numa carreira promissora no futebol americano universitário, até que sofre uma grave contusão no joelho que o tira de jogo.
Por anos trabalha num pequeno cubículo, fazendo um serviço de “previsão esportiva”, na qual dá palpites sobre os resultados dos jogos e os grava para um serviço telefônico de 0-900 para Las Vegas. Com o passar do tempo, suas indicações se tornam cada vez mais certeiras. Mesmo assim, não deixa de enviar currículos para retornar aos gramados, sempre recusados em função de questionamentos quanto ao problema no joelho.
Certo dia, Walter Abrams (Al Pacino), o fundador de um dos maiores serviços de previsão de resultados esportivos para apostadores, reconhece o talento de Lang e lhe faz uma proposta de trabalho irrecusável, que o leva para Nova York.
Abrams é um capitalista convicto, ex-viciado em jogo, que tem problemas com cigarro, comida, álcool, e é cardíaco. Já freqüentou muitos grupos de ajuda em busca de soluções. Além disso, é casado com Toni (Rene Russo), que também é ex-freqüentadora dessas reuniões, só que para viciados em heroína.
A relação de Lang com seu mentor, que aos poucos o ensina como “vender seu produto”, logo se transforma em um equivalente de pai e filho, enquanto a intimidade com dele com Toni começa a levantar suspeita.
No trabalho, as habilidades de Lang se desenvolvem, ele acerta cada vez mais e aprende a vender suas previsões melhor do que ninguém. Abrams lhe dá um novo nome: John Anthony, “o homem de um milhão de dólares com o plano de um bilhão”. Sucesso e poder logo sobem a cabeça, e Anthony começa a absorver Lang. Um clichê clássico que a gente procura relevar.
Enfim, tudo nesse filme gira basicamente em torno de um roteiro que aposta na história do herói puro que é corrompido, o que não traz novidade para quem está acostumado a ir ao cinema. Tampouco a relação mestre e aprendiz. Muito menos a crise de personalidade.
O ouro do filme fica o tempo todo escondido. Ele está na forma com que a questão do vício em apostas é abordada. Obviamente não é essa a história que o filme quer contar, é apenas a descrição do cenário aonde vai se dar o enredo, e acaba se tornando a melhor parte da fita.
Uma ótima cena é a que Abrams leva Lang a uma reunião de viciados em jogo e pede a palavra. Faz um discurso extremamente sólido sobre a culpa do vício, as conseqüências e como aquilo os levou até ali. Depois distribui cartões de sua empresa de dicas de apostas.
Essa cena não seria nada de mais sem Al Pacino que, apesar de bem, se repete, interpretando mais uma vez um papel paternal, verborrágico e energético, mas vale o show. A direção de D.J. Caruso (“Roubando Vidas” e “A Sombra de um Homem”) é convencional, mas cumpre seu papel mantendo a tensão ao longo da fita.
Resta saber o porquê do filme não ser tudo o que poderia. Ele poderia abordar outro tema. Ele poderia ter até outro protagonista. Mas nesse caso já não seria outro filme?
Melhor parar por aqui, antes de entrar no campo das conjecturas novamente.
Resenha originalmente publicada no site (sic!).