Babel, na Bíblia, é uma metáfora da ambição humana. Segundo consta, a torre de Babel teria sido construída pela humanidade para alcançar o céu. Deus, enfurecido com a pretensão, fez com que cada pessoa falasse uma língua diferente, o que confundiu todos. Assim pôs fim ao projeto e espalhou um povo desunido pelo planeta.
Explorar essa metáfora nos dias atuais é o que pretende Alejandro González Iñárritu em “Babel”. Candidato favorito a tudo-que-é-prêmio, o filme do momento está abocanhando estatuetas. Ganhou o Globo de Ouro de melhor drama e Alejandro ganhou o prêmio de melhor direção no Festival de Cannes, o que torna os dois fortíssimos candidatos ao Oscar 2007.
As histórias que compõem o enredo são basicamente três e tratam desta incomunicabilidade, deste choque entre mundos diferentes. A primeira e mais bem sucedida conta a viagem de Richard (Brad Pitt) e Susan (Cate Blanchett), um casal de turistas americanos que tenta salvar seu casamento. Enquanto viajam em um ônibus turístico no Marrocos, Susan leva um tiro. Na tentativa de salvar a vida da esposa, Richard leva o ônibus para um vilarejo, onde esperam por socorro.
Esse fato une os outros dramas: a história dos filhos do casal, que são levados ao méxico pela babá; e de uma jovem japonesa surda-muda, que enfrenta os preconceitos e as dificuldades de sua condição na sociedade.
O que dá pra perceber aí –não quero contar muito mais para não estragar a diversão que quem ainda não viu–, é um tema interessante e uma forma arrojada, que mantém uma linha de estilo do diretor com características já trabalhadas em outros filmes, como a idéia de destino, de infelizes coincidências e o embaralhamento das linhas de ação.
No entanto, “Babel” não consegue ser tão original ou ousado como “Amores Brutos” ou impactante como “21 Gramas”. Nos filmes anteriores, além de uma boa estética, o tratamento dado ao tema foi profundo, mostrando muito mais do que apenas os dois lados de um conflito. É aí que Alejandro parece escorregar um pouco. A superficialidade que marca “Babel” se torna explícita quando há conclusões demasiadamente maniqueístas a favor dos menos favorecidos.
O engraçado disso é que, no “primeiro mundo”, o impacto almejado por Alejandro para seu filme funcionou. A idéia de que existem diversos mundos (inclusive internos), diversas culturas, e que elas não são necessariamente uma ameaça, parece ser novidade para eles. Aí há méritos da direção: a forma como o diretor cria identificação com seus personagens, como coloca o público para ver por meio de outros olhos deles, é exepcional.
Fora isso, tenho uma frase de Alfred Hitchcock que pode servir de lição para Alejandro: “A duração de um filme deveria se medir pela capacidade de tolerância da bexiga humana”. O filme é muito longo (2h20). Metade do público sai diretamente da exibição para o banheiro. Como bem colocado em outra resenha que vi por aí (não me recordo onde), vinte minutos a menos fariam muito bem ao filme.
Simplesmente fantástico este filme Celso! Fantástico!
[]s
Engraçado, a minha irmã caçula também falou que achou o filme “razo” (ou seria raso?).
Eu não consegui chegar a esse nível de análise, talvez por ter perdido tempo de mais entretido com a atriz japonesa.
Bom, talvez eu não sirva como crítico de cinema 😛 ahahaha
Abraços!