A lista de indicados ao Oscar 2008 está simplesmente sem graça. Previsível até o fim. Tão óbvia que até o brasileiro “O ano em que meus pais saíram de férias” ficou de fora, como já era esperado. Uma indicação no mínimo ingênua (e olha que estou sendo bondoso) por parte da comissão que colocou o filme de Cao Hamburger como representante do país.
Nada contra o filme, que é ótimo por sinal. Mas ele não tinha chance na categoria de Melhor Filme Estrangeiro. Além disso, nesse estilo de narrativa, os europeus são mestres. A academia olhou e pensou que era cópia. Fazer o que?
Acho que a indicação nacional para concorrer aos finalistas da categoria deveria ter sido do “Tropa de Elite” – vejam o fenômeno cultural que o filme foi, e ainda está sendo. A comissão já pecou no passado quando deixou de indicar o “Cidade de Deus”. Será vergonha da nossa miséria e violência? Ou um orgulho exagerado do nosso período de ditadura?
O Cinema Novo só teve destaque internacional porque explorou como nunca nossos problemas, mazelas e hipocrisias, enfim, nossa realidade, personificada na forma do sertão nordestino – algo extremamente brasileiro, singular, sui generis, com nossa cara e identidade. Será que não está na hora de deixarmos o lado politicamente correto e enfiarmos o dedo na ferida? Acho que foi isso que a Academia tentou dizer ao mundo cinematográfico quando premiou “Crash – No Limite” em 2006.
Se for assim, sim temos muita matéria-prima. E “Tropa de Elite” soube explorar, assim como “Cidade de Deus”, a faceta mais violenta dela. Acho que devemos assumir de uma vez que temos problemas no presente, em vez de ficar tentando esconder com problemas do passado.
Para terminar de ser previsível, basta que o Oscar 2008 não ocorra, como aconteceu com o Globo de Ouro. Os roteiristas ainda estão de greve, e não vejo nada no horizonte que diga que isso vá mudar até março.
Confira aqui a lista (chata) dos indicados.
grande celsito…
texto com coisas interessantes que valem a pena pensar. a coisa da ‘cópia’ européia não tinha me ocorrido. mas eu ainda penso que tinha tudo para ser indicado. afinal, “O Ano…” tem judeus, momento de excessão em um país subdesenvolvido e uma criança como protagonista. enfim.
agora, quanto a “Tropa de Elite”… sei lá, não vejo ele como um filme tão incrível assim. apenas bom, nos meus dias mais otimistas…
por último, mas não menos importante… “Cidade de Deus” foi enviado para ser o representante oficial brasileiro, pelo que me lembro. e, também pelo que me lembro, ele não foi indicado, em grande parte, por que a comissão que cuida dos estrangeiros é composta por juízes mais velhos e, por isso, não aguentaram ver o filme até o final. só no ano seguinte, depois de ter estreado nos EUA e ser apadrinhado pela Miramax, é que eles conseguiram indicação para melhor diretor, etc…etc…
mas, como eu tive preguiça de pesquisar, confiei só na minha memória. então eu não tenho certeza se o caso CDD no Oscar ocorreu dessa forma.
abração meu camarada!
Opa, injustiça! Cometi uma injustiça!
Me desculpem. O Luiz Gustavo aí em cima têm razão. “Cidade de Deus” foi selecionado para representar o Brasil no Oscar em 2003. No entanto, não entrou na categoria Melhor Filme Estrangeiro entre os cinco indicados. O motivo não sei dizer. Até pode ser a história dos juízes.
No ano seguinte, a Miramax, que é a distribuidora oficial do filme, fez pressão sobre a organização do prêmio e questão de “bater” a produção nos EUA, para forçar a entrada no Oscar. O resultado foram quatro indicações: Melhor Diretor, Melhor Fotografia, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Edição. Não levou nenhum.
Quanto ao “Tropa de Elite”, me referi a ele como fenômeno cultural. Acho o filme bom sim, mas isso é apenas uma opinião. Agora, não há como negar o fato de que o filme marcou o país, levando a bordões próprios e piadas, comentários e polêmicas. Se duradouros, não sei. Mas aconteceu por aqui.