St Patrick´s Day, ou Dia de São Patrício, como queiram, pode ser definido como o dia internacional para beber (muita) cerveja e ser irlandês por um dia. Mas, não foi assim que a data surgiu no calendário na Irlanda. As famosas festividades por lá começaram há cerca de 20 anos, e antes disso não havia cerveja envolvida.
O surgimento da festa
Os desfiles (em inglês chamados de parades) tiveram início em Nova York, lá em 1792. Na Irlanda, o dia 17 de março tornou-se um feriado com viés religioso em 1903. Nada de cerveja, os pubs deveriam permanecer fechados. Uma tentativa de manifestação cultural foi realizada em 1931, mas duramente criticada por todos as entidades conservadoras do país. Depois da década de 60 os pubs e a venda de bebida alcoólica foi liberada durante a data. A festa de São Patrício começa a ser explorada como símbolo da Ilha da Esmeralda a partir de 1997.
O Saint Patrick
Os próprios irlandeses brincam com o fato do santo mais conhecido e símbolo da Irlanda não ser irlandês. Isso mesmo, a história diz que ele não nasceu em terras irlandesas, mas sim em terras britânicas, alguns livros falam na região do país de Gales. Na época eram os romanos que dominavam a região. Patrick teria sido sequestrado por piratas irlandeses e feito escravo. Conseguiu se libertar, entrou para um mosteiro e iniciou sua vida religiosa. Alguns historiadores afirmam que morreu em 17 de março de 462 D.C. Ele foi considerado o padroeiro da Irlanda por conta sua história como maior propagador da religião cristã numa época em que a maioria da população era ligada a rituais pagãos.
É por conta disso que surge o trevo, shamrock, de três folhas mesmo, que seria usado por Patrick para explicar a Santíssima Trindade. Mais tarde ele se popularizou como um dos símbolos da Irlanda, sendo comercializado em lojas de souvenir por todo o país. O mais antigo símbolo, no entanto, é a harpa, que faz parte da logo da Guinness.
A cerveja
Os irlandeses amam as Stouts, mais especificamente a Guinness, a cerveja escura mais conhecida no mundo. O estilo, Irish Dry Stout, surgiu no século XVIII, e se você for até a fábrica da Guinness em Dublin, vão dizer que foi Arthur Guinness que o criou. A verdade é que em 1759, a cerveja inglesa era mais barata que a irlandesa porque pagava menos impostos. Para concorrer no mercado com preços competitivos, cervejarias irlandesas tiveram que baixar os custos de outra forma e desenvolveram uma forma de usar cevada crua – ou seja, aquela que não é malteada –, intensamente torrada, em suas cervejas. Ela era mais barata por ter menos impostos e resolveu o problema, entregando para a cerveja sabores semelhantes. Mas como efeito colateral, a cerveja também ficou mais leve e menos alcoólica que as versões inglesas, e com notas picantes. Felizmente, isso agradou o paladar popular na época.
Apesar de ser outro símbolo do país o estilo mais consumido por lá também é o American Lager. Beber uma Stout, principalmente no St Patrick´s Day, é quase que obrigatório para quem visita o país, mas a população mais jovem não é grande consumidora do estilo.
Irish Craft Beers
As American Lagers, cervejas mainstream, também são a maioria do consumo na Irlanda. Pode-se considerar que a revolução das artesanais vem acontecendo nos últimos 5 anos, quando pequenas cervejarias irlandesas começam a crescer e ganhar mercado, os festivais começam surgir e os produtores se unirem. Segundo relatório produzido pelo consultor economista Bernard Feeney, em 2012 o país possuía 15 microcervejarias e em 2016 chegou 90 – 62 fábricas cervejeiras e 28 cervejeiras em regime de contrato.
A produção total das micros chega a 134 mil hectolitros em 2015, um crescimento de 56% em comparação a 2014. Mas, isso ainda soma apenas 1,8% da produção de cervejas no país, em 2015. Para 2016, ano em que foi realizada a pesquisa, o autor estimava que essa porcentagem subisse para 2,5%.
Um dos primeiros brew pubs a produzir e vender cerveja artesanal na Irlanda foi o Porterhouse. Em 1996 os fundadores Oliver Hughes e Liam La Hart, abriram as portas do primeiro pub na zona mais turística de Dublin, o Temple Bar. Com chopes de fabricação própria, algumas cervejas artesanais importadas da Bélgica, Estados Unidos e Alemanha, eles eram considerados exóticos para época. Em entrevistas para o jornal Irish Times Hughes conta que ninguém acreditava que um pub que não vendia cervejas comerciais duraria. Ele afirma que era difícil até encontrar garçons que aceitassem trabalhar no pub por conta disso. Hoje, 20 anos depois, Portherhouse possui 4 bares espalhados pelo país, um em Nova York e outro em Londres.
O chope verde não é irlandês
Segundo pesquisa em sites estrangeiros, o chope verde foi inventado pelo médico professor Thomas H. Curtin, que era dono de um clube Nova York, em 1914 e serviu uma cerveja verde na festa de comemoração de St. Patrick. De acordo com o repórter do jornal The Evening Independet, o professor Thomas disse que havia colocado algumas gotas de tinta azul utilizada para tingir tecidos em uma quantidade não informada de cerveja. O azul reagiu com o amarelo e assim nasceu o chope verde, nos Estados Unidos. Em 1985, o sucesso do chope verde foi tão grande que barris cruzaram o oceano Atlântico e chegaram em Dublin, capital da Irlanda, segundo o jornal americano The Courier. Mas a tradição se espalhou pelo mundo todo e chegou no Brasil, não se consolidou na Irlanda, que continua preferindo um bom pint de Stout.
St Patrick´s Day na Irlanda
É uma mistura do nosso carnaval com o desfile de 7 de setembro. Em Dublin acontece a maior parade (desfile) de St Patrick´s Day do país. Nele participam escolas, bandas marciais, figuras políticas, carros alegóricos, militares, policiais, entre outros. Cada ano existe uma temática para que os grupos explorem com fantasias e performances. Tudo muito colorido. Além do desfile a cidade tem uma programação especial para valorizar a cultura irlandesa. Teatro, dança, esporte, oficinas, museus, todos fazem algo de especial na semana de St Patrick´s Day para atrair turistas e resgatar a cultura entre os cidadãos.
Nas ruas todo mundo usa alguma coisa verde, pois é a data que todos são irlandeses por um dia. Nada de chope verde por lá, como vimos, e sim muita Stout. É proibido beber na rua em Dublin, mas no St Patrick´s Day a polícia faz vistas grossas, pois é dia de festa e de receber bem os turistas. Não é muito fácil conseguir um pint de cerveja na região do Temple Bar, já que o local é tomado por pessoas andando para todos os lados. Mas, ainda assim, vale a pena participar da festa.
Fonte dos dados econômicos: Bordia.ie
Fonte sobre Porterhouse: Irish Times