O estilo que é criou fãs chamados de lúpulomaníacos, o India Pale Ale, tem uma data de celebração só dele. O International IPA DAY foi criado na Terra do Tio Sam, em 2011. Era de se esperar que os americanos criassem o dia da IPA, já que são um dos mais aficionados pelo lúpulo – ingrediente que responsável pelo amargor que não pode faltar em uma cerveja India Pale Ale. A data é lembrada toda primeira quinta-feira de agosto, ou seja, hoje. No Brasil a data também é festejada. Em Ribeirão Preto, por exemplo, os cervejeiros se organizam para comemorar o IPA DAY regado com muitos chopes do estilos, mas o evento esse ano acontece somente em novembro. Isso para não falar de diversas outras festas do tema espalhadas pelo Brasil.
E você sabe como, quando e onde surgiu esse estilo? A história é bem antiga e interessante. Muitos de vocês já ouviram algumas lendas. Mas, duvido que todos saibam quando o lúpulo começou a ser difundido na produção de cerveja. Quem pensou no século IX acertou. E o estilo Pale Ale? Imaginam como e quando surgiu? Foi em 1642, época em que o coque começou a ser utilizado para secar o malte. Alguns anos depois, surgiria a cerveja India Pale Ale, mais precisamente em 1835, quando o estilo foi nomeado.
Tudo começou em meados do século XVIII. Nessa época, a India era colônia britânica. A história mais clássica diz que os militares sofriam com o calor e a falta de água potável. O estilo foi criado meio sem querer para que os soldados conseguissem suportar a odisseia que era da Inglaterra até a Índia. Por isso, o nome India Pale Ale. E adivinhem qual o ingrediente que salvou os militares da época? O lúpulo. O componente na cerveja tem o poder de proporcionar o gosto amargo, com notas cítricas, frutadas ou terrosas. Outro coadjuvante importante foi o teor alcoólico mais elevado. Tanto é que, não podemos caracterizar uma autêntica IPA se o teor alcoólico for inferior a 5%, segundo alguns guias de estilo.
Hoje, no entanto, já se sabe que vários fatos contados nessa história não são bem assim. Pesquisas recentes, como do livro The Oxford Companion to Beer, de Garret Oliver, e do jornalista inglês Martyn Cornell, publicadas no blog Zythophile, mostram isso. Elas defendem, entre outras coisas, que o problema original, da cerveja estragar durante a viagem, não existia. Porters e Pale Ales já chegavam bem à India mesmo antes da IPA. Outra coisa era que George Hogdson teria inventado a IPA. Só que documentos provam que Hogdson foi sim um grande exportador, que dominou o mercado indiano no início dessa aventura. No entanto, já existiam Pale Ale mais lupuladas e álcoólicas, principalmente voltadas para exportação. E a evolução do estilo teria sido feita com o tempo, com a produção da IPA em Burt-on-Trent, por exemplo. Para entender a história completa, veja aqui. Contar essa história com detalhes fica para outro post 😉
Hoje vamos falar de variações do estilo IPA, que podem ser muitas. Os americanos apostam em mais amargor e ingredientes locais, por isso criaram a American IPA. Os ingleses apostam no equilíbrio entre dulçor do malte e o amargor do lúpulo, então produzem sua English IPA. Para você conhecer na prática essas diferenças nesse International IPA Day selecionamos 9 rótulos distintos que trabalham muito bem as variações do estilo. Confiram:
English IPA – Goose Island IPA: Apesar de ter origem americana, a Goose Island IPA é uma tradicional English IPA. Como explicado anteriormente, a IPA foi criada pelos ingleses. Então, essa cerveja é a versão original do estilo. Com teor alcoólico de 5,9% a Goose Island IPA é uma cerveja bem aromática, possível de identificar o cítrico (um toque de lúpulos americanos) e herbal. No paladar o amargor toma conta, inclusive no retrogosto. Ao final da experiência conseguimos sentir um pouco de picância. Trata-se de uma opção de corpo leve, fundo maltado e refrescante.
American IPA – Green Cow IPA: É certo que os americanos são os mais apaixonados por lúpulo. Exatamente por isso que a IPA deles será ultra lupulada. A opção propõe um pouco mais de amargor se comparado com a versão inglesa. Além disso usa lúpulos frutados, cítricos ou resinosos, típicos dos EUA. Essa foi a proposta da microcervejaria de Porto Alegre Seasons, que criou a Green Cow IPA. Apesar de ser amarga a cerveja possuí alto drinkability, é fácil de beber. Apresenta cor amarelo-acobreada. Possuí aromas cítricos e herbais. A cerveja recebeu medalha de ouro no 3° Concurso Brasileiro de Cerveja de 2015, medalha de bronze na South Beer Cup 2014, ouro no 1° Concurso Brasileiro de Cerveja 2013 e prata na South Beer Cup 2012.
Double ou Imperial IPA – Bodebrown Perigosa: Apesar do nome criativo que a cervejaria de Curitiba deu para o rótulo, a cerveja não tem nada de perigosa. Fiquem tranquilos que o risco que se corre com essa cerveja será encontrar a presença de muito lúpulo e teor alcoólico de 9,2%. Trata-se de uma Imperial IPA, um estilo que tem como característica ser mais alcoólico e ter mais corpo. De coloração âmbar, a opção possuí notas de maracujá e goiaba. Levou para casa a medalha de ouro no South Beer Cup 2014, na categoria Mixed Beers.
Session IPA – Tupiniquim Easy Come Easy Go: O conceito do que chamamos hoje de cervejas Session surgiu na Inglaterra, durante a Primeira Guerra Mundial, com estilos como Mild Beers e Ordinary Bitters. Os primeiros consumidores eram trabalhadores que aproveitavam a pausa do trabalho para tomar uma cervejinha sem correr o risco de ficarem alcoolizados. Sessio IPA é um tipo de IPA que não pode ultrapassar os 5% de teor alcoólico e tem características suavizadas em relação ao estilo American IPA. A sugestão é a gaúcha Tupiniquim Easy Come Easy Go IPA. Em seu aroma e paladar o cítrico se destaca. Possuí apenas 4,5% de teor alcoólico, revelando uma cerveja refrescante, frutada e com alto drinkability. Ganhou medalha de bronze no Festival Brasileiro da Cerveja deste ano.
Black IPA – Cafuza: O estilo Black IPA é fácil de entender. Trata-se de uma IPA comum, porém com maltes torrados em sua receita, responsáveis por dar a cor preta. Mas, cuidado, lembrem-se que o ingrediente principal dessa cerveja continua sendo o lúpulo. Para a degustação, uma boa pedida é a Cafuza Black IPA, que é uma Imperial Black IPA produzida pela Dogma, com ainda mais álcool. No aroma e paladar uma explosão de sentimentos: muito lúpulo resinoso e malte torrado. O surpreendente é que apesar do alto teor alcoólico de 9%, ela proporciona alto drinkability. Vale lembrar da medalha de bronze que ganhou em 2015 no Festival Brasileiro da Cerveja.
Belgian IPA – Urbana La Sorciere: Uma Belgian IPA geralmente remete gostos mais frutados e condimentados e vem das leveduras belgas em sua receita. A cervejaria Urbana, da cidade de São Paulo, possui um clássico exemplo desse estilo. Nomeada como La Sorciere, a opção tem 7% de teor alcoólico. Seu aroma frutado e caramelizado torna a cerveja bem aromática. No paladar o amargor se equilibra com o adocicado, mas mantem o amargo no retrogosto. Levou a medalha de bronze no Concurso Brasileiro de Cerveja do ano passado.
West Coast IPA – Holy Cow: Pense em uma cerveja amarga. Agora multiplique essa sensação de amargor. Essa é a proposta de uma West Coast IPA, também criação dos americanos, mais especificamente dos californianos. Ela fica no limite de amargor e álcool do estilo, com final super seco. Para experimentar o estilo, sugerimos outra cerveja da gaúcha Seasons. Trata-se da Holy Cow West Coast-Style IPA. Ela utiliza uma combinação grande de lúpulos americanos na receita. No aroma e no paladar adivinhem quem irá se destacar? É o lúpulo, claro. Foi premiada no Concurso Brasileiro de Cerveja com medalha de bronze em 2014 e prata no ano seguinte.
Brett IPA – Way Beer Brett IPA: Quando falamos de uma Brett IPA precisamos entender o motivo de usar o nome Brett. Durante a produção da cerveja utilizam-se leveduras e para este estilo são acrescentadas as Brettanomyces. Essa levedura selvagem é capaz de deixar a cerveja mais seca, o que eleva a sensação de amargor, com ou sem os aromas animalescos típicos dessa levedura. A sugestão para conhecer o estilo é a paranaense Way Beer. O processo de fermentação desse rótulo é feito 100% com Brettanomyces e não traz o funky. Com 6,5% de álcool a cerveja possuí aromas cítricos e no paladar sabores resinosos.
White IPA – The White IPA Dortmund: Se a intenção for tomar uma IPA e lembrar um pouco o estilo Witbier, a White IPA vai ser uma boa opção. Geralmente essas cervejas levam em sua composição ingredientes como cascas de laranja e sementes de coentro e, é por isso que pode lembrar uma Witbier. O que ira diferenciar é a presença dos lúpulos que é possível sentir em seu aroma. Exemplo de rótulo é o da cervejaria da cidade de Serra Negra, a Dortmund. Eles criaram a primeira White IPA distribuída no Brasil, que tem 4,5% de ABV. Possui amargor equilibrado e um final seco.