Uma das notícias que mais me chamou a atenção nesta segunda (14) foi sobre a entrega do Globo de Ouro. Uma das principais premiações do cinema americano, chamada de prévia do Oscar, não aconteceu. Quer dizer, aconteceu pela metade. Nada de tapetes vermelhos e personalidades. Apenas jornalistas e uma chata premiação numa chata coletiva de imprensa.
Tudo isso porque os roteiristas de Hollywood estão em greve. Isso que eu chamo de “o poder da caneta”. Afinal, se cinema é a arte da imagem em movimento, como defendia Eisenstein, por que não rodar sem roteiro? Porque esse tipo de cinema não funciona assim! Simples.
Tudo bem que a premiação não aconteceu mais pela ameaça do sindicato dos roteiristas fazerem um piquete em frente à premiação do que pela falta de roteiros – e é claro que se não houvesse apoio dos diretores e atores isso também não aconteceria. No entanto, isso dá uma idéia do quanto o cinema, e a tevê por extensão, é dependente do papel.
É necessário história, drama, tensão, clímax, etc. Sem isso, e quem saiba fazer isso, nada feito. Filmes, seriados e até talk-shows estão ou estiveram parados por falta de texto.
Eu apoio essa galera. Devem trabalhar muito e ganhar muito menos do que deveriam por um trabalho essencial – a extensão da paralisação já dá uma idéia. Pena que uma das poucas premiações do cinema que ainda têm credibilidade, como o Globo de Ouro, seja sacrificada por isso. Bem que podia ser o Oscar.
Confira os premiados no cinema
Ps.: Depois que terminei de escrever isso, li uma entrevista sobre o lançamento do livro “Em Tempo Real – Lost, 24 horas, Sex and the City e o impacto das novas séries de TV”, do crítico de cinema e televisão Cássio Starling Carlos. Ele menciona uma entrevista do criador da série “House”, David Shore, sobre roteiros. Lá vai um trecho (confira na íntegra aqui):
“O que é fator-chave para o sucesso das séries é ter aberto espaço para a criatividade dos roteiristas. Em entrevista publicada na Folha de S.Paulo, o criador de ‘House’, David Shore, foi enfático: ‘A televisão é o meio em que você quer estar hoje, nos EUA, se você é um roteirista. Se estivesse fazendo um filme, o diretor reescreveria o meu script. Na TV, sou eu que digo ao diretor o que estamos buscando. O que importa hoje nos filmes é o espetáculo, o que você pode explodir. Por isso é que a televisão começou a atrair roteiristas. Além disso, esse veículo permite explorar um personagem por muitos anos, o que não acontece no cinema, onde você divide duas horas com efeitos especiais.’”