Um conto da fadas para adultos é uma aposta arriscada em tempos que a realidade ganha destaque no território da ficção – a exemplo do último Oscar -, mas foi muito bem realizada pelo diretor Guillermo del Toro em “O Labirinto do Fauno”. O filme, inclusive, já foi selecionado para representar o México no Oscar 2007, na categoria de Melhor Filme em Língua Estrangeira, e participou do Festival de Cannes deste ano.
Para contar a história de Ofélia (Ivana Baquero), garota de 13 anos que descobre por meio de um Fauno ser a encarnação de uma princesa do mundo subterrâneo, Del Toro recorre a adaptações de gênero cruciais para o filme servir ao novo público. A história é inserida num contexto de guerra e o “clima” do filme ganha contornos obscuros, assim como leves toques de horror e suspense.
A narrativa se passa na Espanha, em 1944, cinco anos após o término da guerra civil. O país se encontra sob a ditadura de Francisco Franco, e suas forças militares lutam para acabar com os últimos vestígios da resistência republicana. Vidal (Sergi López) é um capitão deste exército que atua no interior do país, em meio a florestas e montanhas, para anular um grupo de rebeldes.
Vidal traz para perto de si, quase na frente de batalha, sua nova esposa Carmem (Ariadna Gil), que está grávida, e a filha dela, Ofélia. Elas são hospedadas em um antigo moinho, base operacional para os militares. Atrás das instalações há um antigo labirinto onde, em certa noite, a garota conhece o Fauno que lhe revela o segredo de sua origem. Mas, para voltar ao seu reino, Ofélia tem que cumprir três provas antes da lua cheia.
“O Labirinto do Fauno” é um filme visualmente deslumbrante em vários quesitos. Para citar alguns: as criaturas fantásticas convenceriam até os mais céticos de que são reais; os cenários são minuciosamente detalhados e totalmente construídos (segundo material de divulgação, não há um único ambiente natural); os efeitos especiais e a maquiagem são, como de costume nos filmes de Del Toro, impactantes; e a fotografia trabalha muito bem a idéia de escuridão por meio de contrastes, resultado do trabalho de Guillermo Navarro.
No entanto, apesar de todos os cuidados visuais, com o contexto histórico e até com a mistura de gêneros, o filme não funciona 100%. Apesar de seguir na linha “O Mágico de Oz” e “Alice no País das Maravilhas” – que não são contos de fadas necessariamente para crianças e concentram nas simbologias e metáforas as principais formas de “falar” ao público adulto -, a narrativa ficou descuidada, previsível e fraca em comparação ao restante do conjunto fílmico.
Mesmo assim o filme é bom e uma ótima iniciativa de retorno a ficção mais fantástica, agora sem a inocência da desvinculação da realidade. Além disso, vale a pena prestigiar também pela qualidade do material, que não fica devendo nada para os melhores filmes hollywoodianos.