Nesta segunda-feira (13) saiu o anúncio da compra da Brasil Kirin, operação brasileira da Kirin Holdings, pela Heineken. Com isso, a Heineken Brasil se torna a segunda maior cervejaria do país, ficando atrás apenas da Ambev, da gigante ABInbev. A operação foi fechada por 664 milhões de euros, cerca de R$ 2,2 bilhões, em pagamento de ações. O negócio inclui a aquisição das 12 fábricas da Brasil Kirin, além da rede própria de vendas e distribuição. A Brasil Kirin teria sido avaliada em 1,025 bilhão de euros, segundo informações da imprensa.
A operação ainda está sujeita a aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), mas a perspectiva é que isso ocorra sem muitos problemas. “Esta transação é transformadora nesse importante mercado de cerveja, contribuindo para o histórico de sucesso que registramos no segmento premium e fortalecendo nossa plataforma para crescimento futuro. Reitera nosso compromisso com o mercado brasileiro e a confiança em nossa capacidade de gerar resultados positivos no longo prazo em todos os segmentos do mercado. Estou ansioso para receber nossos novos colegas da Brasil Kirin na Heineken e trabalharmos juntos para o crescimento do novo negócio”, comenta, Jean-François Van Boxmeer, Chairman & CEO da Heineken.
Além da marca Schin, o portfólio da Brasil Kirin inclui cervejas, refrigerantes, sucos, energéticos e águas de marcas como Devassa, Baden Baden, Eisenbahn, Cintra, Glacial, Água Schin, Fibz, ECCO, Itubaína, Skinka e Viva Schin. A Heineken é a segunda maior cervejaria do mundo. Seu portfólio inclui as marcas Heineken, Amstel, Desperados, Sol, Kaiser, Kaiser Radler, Bavaria, Bavaria Premium, Bavaria 0,0% e Família Xingu.
Análise
Assim como em 2010, quando a Heineken comprou a Femsa e começou sua operação própria no Brasil, me ocorreu que esse fato precisa ser traduzido para o consumidor. Foi o que tentei fazer naquela época. Afinal de contas, em que uma aquisição dessas pode implicar? O que isso quer dizer para você, querido leitor?
É difícil avaliar, é claro, tão próximo no tempo. Muitas perguntas ficaram sem respostas e outros desdobramentos devem ser decididos somente com o tempo. Mas é possível reunir algumas informações que nos dão base para análise.
Uma oportunidade bem aproveitada
Na minha maneira de ver, a operação foi uma questão de oportunidade. Por conta da operação brasileira, a Kirin mundial teve seu primeiro prejuízo da história em 2015 e começou a querer deixar o problema de lado. Chegou até a vender para a Ambev uma fábrica. Vendo a possibilidade de concretizar um negócio com benefícios e subir para segunda maior cervejaria brasileira, a Heineken soube aproveitar o momento fechando negócio por um valor bem mais baixo do que a avaliação de mercado do valor da ex-Schincariol.
A Heineken agora pode chegar a 20% do market share de cervejas do Brasil, o terceiro maior produtor de cervejas do mundo – só a Brasil Kirin detinha 9% e a Heineken cresceu muito nos últimos anos chegando a 9,3% do market share segundo números de 2016.
Com isso, a Heineken ganha mais musculatura para disputar o mercado com a Ambev, que detém cerca de 70% do mercado.
Foco no Mainstream
Em primeira análise, o foco da Heineken é disputar principalmente uma boa fatia do segmento mainstream, as cervejas populares, e do segmento econômico, aquele das latinhas e garrafas pequenas (normalmente 20% mais baratas). A Heineken já detém 22% do segmento premium (segmento de mercado para as cervejas que são em média 20% mais caras). Desenvolvendo marcas nesse sentido, a Heineken deixaria de depender tanto da sua marca principal, diversificando os negócios.
Regionalização
A Brasil Kirin era especialmente forte com suas marcas no Norte e Nordeste do país, justamente onde a Heineken tinha menos força e penetração. Outra perspectiva é disputar o mercado no eixo Rio-São Paulo, responsável por 21% do consumo de cervejas no país, com marcas mais mainstream.
Mais competição e menores preços
Uma das perspectivas é que um cenário mais competitivo entre Heineken e Ambev se crie, o que deve ter efeito nos preços das cervejas e favorecer o consumidor em um primeiro momento. No entanto, é notável que o mercado está sendo centralizado em menos players, o que pode ser também complicado, já que há menos opções no mercado.
Oktoberfest com Heineken?
Já imaginou uma Oktoberfest com Heineken? Meio estranho né? No entanto, isso poderia se tornar verdade, já que a atual patrocinadora da festa, a Brasil Kirin, com a marca Eisenbahn, passa a ser do grupo. No entanto, segundo reportagem do Diário Catarinense, a expectativa é que a Heineken mantenha o contrato e o patrocínio.
Quanto a marca que será usada, é uma prerrogativa agora da Heineken Brasil. No entanto, é bem possível que continue tudo como está. Mas não é impossível que existe a opção de chopp Heineken no evento.
A Brasil Kirin havia vencido a licitação em 2014 para explorar até 2020, via contrato de naming rights, a Oktoberfest de Blumenau. Em 2015, investiu R$ 12 milhões para construir um novo pavilhão no Parque Vila Germânica.
Operação com cervejas artesanais
As marcas Baden Baden, Eisenbahn e Devassa passarão a ser da Heineken de agora em diante. Mas a questão é o que será feito delas. O foco da Heineken Brasil há algum tempo passou a ser o segmento mainstream, tendo a empresa até recuado um pouco com cervejas especiais, tirando o foco das importadas Murphy’s, Edelweiss e Birra Moretti, que chegaram a ser importadas para o Brasil.
Resta saber como as novas marcas serão trabalhadas. Um ponto a favor, no entanto, é a tradição da Heineken em não abandonar marcas adquiridas, e sim trabalhar elas nos seus mercados.
Brooklyn será feita pela Heineken?
Bem provavelmente não.
Explico. Há algum tempo, a Kirin Holdings comprou uma participação de cerca de 20% da Brooklyn Brewery e a cerveja começaria a ser produzida no Japão e Brasil. No entanto, a detentora dessa parceria é a marca japonesa mundial, e não a operação brasileira. Ou seja, com a compra, o plano deve continuar no Japão mas não aqui no Brasil.
Refrigerantes e a parceria com a Coca-Cola
Outra pergunta que resta no ar é a questão dos refrigerantes, responsáveis por boa parte do faturamento da Brasil Kirin. A Heineken não tinha esse produto no seu portfólio e agora terá que aprender a lidar com eles. No entanto, o problema é ainda maior, pois a cervejaria holandesa é parceira da Coca-Cola na distribuição. Será que isso vai ser problema por agora eles serem supostos concorrentes? Não há indícios de como isso poderia ser resolvido.
O portfólio de refrigerantes da Kirin responde por 2% do market share brasileiro nesse mercado.
Plantação de lúpulo e Concurso Mestre Cervejeiro Eisenbahn
Como bem lembrado pelo colega Raphael Rodrigues, do blog All Beers, também não se sabe exatamente como ficará a questão do Concurso Mestre Cervejeiro Eisenbahn, se será mantido ou não. Assim como a plantação experimental de lúpulo, em São Bento do Sapucaí, que se dedica a pesquisar uma variedade de lúpulo brasileira.
Ótima análise. Melhor do que ler em grandes portais, aqui a notícia já chega com os pontos que são importantes para quem é do mercado. Com relação a matéria, espero mesmo que a Heineken se comprometa com marcas como Baden e Eisenbahn que são tão importantes na história da cerveja artesanal no país, melhorando ainda mais a qualidade com preços que podem chegar em consumidores ainda mainstream, apesar de esse ser o foco da companhia.
e o rótulo Kirin Ichiban, volta pro Japão? ou será produzida pela Heineken?!