Já é lugar comum dizer que a Bélgica é referência na produção de cervejas. Só que há no país um novo projeto cervejeiro que chega com um objetivo claro: ajudar no processo de renascimento dessa tradição ao lado da comunidade de consumidores. Trata-se do Brussels Beer Project que surgiu em 2013 na cidade de Dansaert e aposta num projeto de co-criação, inovador e ousado, que está trazendo novos ares para o meio cervejeiro por lá.
O Brussels Beer Project aposta em um modelo de crowdfunding – que nada mais é do que um meio de financiamento coletivo para arrecadação de dinheiro. E convenhamos que uma causa tão nobre quanto a cervejeira teria como ficar sem recursos nesse sentido. E, em apenas dois anos de atuação, o BBP já conta com 1.200 crowdfunders que recebem 12 cervejas a cada ano para o resto de suas vidas pagando € 160,00.
O colaborativo processo de produção envolve a comunidade que foi formada em torno do Brussels Beer Project e tem até hashtag oficial: a #beerforlife. Essa comunidade participa do projeto de várias formas. Eles ajudam da seleção das novas criações e até dando sugestões de novas cervejas. O engajamento é grande. Dentro do projeto, os consumidores sugerem não só o estilo do seu interesse como vão além e pedem que os produtores traduzam de forma líquida as sensações e sentimentos esperados na degustação da nova cerveja.
Ou seja, segundo seus criadores, o Brussels Beer Project produz muito mais do que um produto, mas sim um estado de espírito que conecta os tanques (da cervejaria parceira Bier Anders) aos consumidores.
A expectativa dos belgas é de produzirem mais 20 novas receitas e cerca de 750.000 garrafas por ano – levando em conta que os rótulos do Brussels Beer Project já podem ser encontrados em mais de 150 pontos de venda em Bruxelas e em outros 20 países. Há ainda os rótulos que eles esperam promover com mais cervejarias em caráter de colaboração – como já fizeram com a cervejaria brasileira Invicta (a bebida recebeu o nome de Transatlântica Brett).
O projeto e suas cervejas naturalmente caíram nas graças dos cervejeiros belgas e essa fama se expandiu para outros locais – como o Brasil que recebe desde o começo do mês quatro rótulos do Brussels Beer Project por intermédio da Bier & Wein Importadora. Durante esse lançamento, realizado na Academia Barbante de Cerveja, Sébastien Morvan, um dos idealizadores do projeto, respondeu a algumas perguntas do BarDoCelso.com. Confira:
BarDoCelso.com: Explique-nos um pouco mais sobre esses novos modelos de negócio de cerveja.
Sébastien Morvan – A idéia é trazer um “fresh air” para a cena cervejeira da Bélgica. Acho que a cultura cervejeira belga sempre se pautou pela criatividade, mas nos últimos 20 anos a criatividade foi deixada um pouco de lado e queremos fazer parte desse renascimento da cultura cervejeira belga. E como faremos isso? Com essa ideia de co-criação para que tenhamos a maior criatividade e inovação que forem possíveis como novos estilos, mix de estilos e também para sermos o mais colaborativos possível. Para isso queremos trabalhar com cervejeiros do mundo todo e tendo também a participação dos “beer lovers”.
Acho que estamos conseguindo com o Brussels Beer Project colocar a maior proximidade possível entre nós, a cerveja e as pessoas. Além disso, entendo que as cervejas mais conservadoras – não só da Bélgica como também em toda Europa – têm uma relação distante com o seu público e tratam a cerveja até como um segredo e em torno de uma mística. E nós compartilhamos os nossos segredos com a intenção de justamente explicar o nosso produto para que os nossos consumidores entendam o porquê que a cerveja é boa.
BdC – Vocês desenvolvem um modelo de cervejas por crowdfunding. Este é realmente o melhor caminho para as novas cervejarias ou para aqueles que têm desejo de empreender no meio e não têm muitos recursos financeiros?
SM – Não sei se é a melhor, mas é um bom caminho. No nosso caso somos dois jovens cervejeiros (Olivier de Brauwere é o outro idealizador do projeto) que tinham bolso vazio e um grande sonho. O que necessitava de uma grande comunidade por trás conosco. Dinheiro é importante porque somos profissionais, mas nosso trabalho vai além. Afinal, procuramos desenvolver uma conexão criativa com essas pessoas para que se sintam parte do projeto e até de uma aventura. E essa é a melhor parte de um projeto de crowdfunding que é ver pessoas seguindo junto com você. O que para nós é ainda mais fantástico porque temos mais de 1.200 pessoas junto conosco criando essa conexão.
BdC – Como surgiu esse projeto?
SM – O Brussels Beer Project surgiu do desejo que tínhamos de repaginar a cena cervejaria da Bélgica para criarmos novos paradigmas, novas vertentes de estilos de cerveja, um novo jeito de consumir cerveja, um novo jeito de pensar cerveja, um novo jeito de engajar a cerveja. E o céu acaba sendo o limite diante das inúmeras possibilidades que temos de fazer cerveja junto às pessoas. E estou sempre pensando no que posso fazer depois.
BdC – Há projetos similares na Europa ou vocês são os únicos?
SM – Não conheço nenhum projeto como o Brussels Beer Project nem na Bélgica nem na Europa. Até porque não pensamos apenas na cerveja como líquido, mas sim em algo que tem espírito e alma junto a uma comunidade. E com isso queremos participar do renascimento da cena cervejeira belga.
BdC – Recentemente vocês fizeram uma cerveja em parceria com a Invicta. É possível que tenhamos outra produção com cervejarias do Brasil?
SM – Seria mesmo um grande prazer. Tivemos alguns convites, mas nada definido até o momento. Eu gosto muito do Brasil e gostaria de fazer parcerias fortes com o país com algum projeto maior. Gosto muito da Invicta, da Tupiniquim da Urbana… Até porque o mercado do Brasil também é muito criativo e artístico.
BdC – A cultura cervejeira da Bélgica é muito forte. Mesmo assim há a necessidade de os consumidores terem tantas novidades quanto o projeto de vocês porque o mercado cervejeiro belga está saturado?!
SM – O público belga é como o francês que conhece o produto e sabem o que consomem. Mas ainda precisam aprender e são curiosos. Ocorre que há um gap entre o que as pessoas querem saber e descobrir com o que a cena cervejeira de hoje oferece.
BdC – O público de vocês é mais jovem ou maduro?
SM – O público é mais jovem (entre 25 e 40 anos) e com poder aquisitivo – muito embora nossa cerveja seja acessível, embora saiba que ela chega ao Brasil com um valor mais alto que infelizmente não é o que gostaríamos que fosse.
As cervejas do Brussels Beer Project no Brasil
DELTA
Primeira produção do Brussels Beer Project, a Delta foi escolhida por 850 moradores da capital belga no verão de 2013. Apresenta toque frutado que remete a lichia e alta drinkability podendo ser grande pedida para os dias de calor.
Ficha Técnica
Estilo: Belgian IPA
Teor alcoólico: 6,5 %
IBU: 45
DARK SISTER
Esta Belgian Black IPA foi produzida com base na Delta. Porém, com toque mais “malvado”. Afinal, a cerveja surgiu de uma brincadeira dos seus autores que queriam produzir uma cerveja especial para o Natal de 2013, mas sem as ervas clássicas e com alto teor alcoólico. O que gerou a produção desta cerveja com variedade de maltes torrados que resultaram em uma cerveja cheia de personalidade com sabor e aroma que varia entre toques de chocolate e frutas cítricas como o maracujá.
Ficha Técnica
Estilo: Belgian Black IPA
Teor alcoólico: 6,66%
IBU: 45
BABYLONE
Esta criação do Brussels Beer Project convida os cervejeiros para voltarem aos primórdios da cerveja há 7.000 anos quando foi descoberta a bebida. De modo que a cerveja é produzida tendo como base a reciclagem de pão fresco que são coletados em panificadoras da região onde as cervejas são produzidas. E com uma generosa dose de lúpulo com o “amargor do novo mundo”.
Ficha Técnica
Estilo: Bread Bitter
Teor alcoólico: 7%
IBU: 65
GROSSE BERTHA
Esta cerveja é definida pelo Brussels Beer Project como “a cerveja Weizen para adultos!”. Afinal, ela é uma Belgian Hefeweizen com teor alcoólico de 7% – bem mais elevado do que o perfil tradicional do estilo. A Grosse Bertha, produzida em 2014, mescla os estilos Weizen alemão com o toque de uma Belgian Tripel. Ou seja: uma cerveja com turbidez e mix de aromas frutados e condimentados.
Ficha Técnica
Estilo: Belgian Hefeweizen
Teor alcoólico: 7%
IBU: 20
As cervejas estão a venda como valor médio de R$ 30,00 (330 ml) e para mais informações sobre o Brussels Beer Project acesse o link.
Gostei da cerveja por ser zero açúcar e zero carboidrato, uma vez que sou diabético. Parabéns ao inventor desta cerveja. Sou de Caravelas no extremo sul da Bahia.