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Crônica de 2ª: o taxista DJ


[Crônica originalmente publicada no Viver Bem de domingo (3)]

Há algum tempo optei por não ter carro. Primeiramente porque não tenho dinheiro para manter um. Depois, eu moro no Centro. Vou andando para a maioria dos lugares, uso ônibus e, quando há necessidade, táxi. A bicicleta também está nos planos e a carona dos amigos ajuda muito. Claro que não é fácil ser um “não motorizado”. Carregar a compra do mercado é um belo exercício, por exemplo. Também há um certo preconceito: um homem sem carro é, para muitos, meio homem. Além da associação com a virilidade, carro é também status. Para esse tipo de pessoa, quem não tem, denuncia um certo fracasso profissional.

Mas há vantagens. Uma consciência ambiental mais tranquila e a adaptação ao meu estilo de vida boêmia. Não ter carro sempre rende boas histórias. Dia desses chamei um táxi para ir a um bar. Eu estava atrasado e nenhum ônibus – sendo o novo ligeirão ou não – poderia me salvar. Entrei no carro, dei a indicação do local e trajeto. Difícil ficar calado em um táxi. Logo o motorista puxou assunto: “Gosta de música?”

Respondi que sim e ele me mostrou duas maletas lotadas de CDs. Enquanto o taxímetro rodava, contou que gostava de tocar música no carro para os clientes. Ali era uma espécie de DJ particular. Escolhia algo conforme o gosto do freguês e variava conforme a ocasião. Se há alguém estressado, colocava algo tranquilizante. Se estivesse triste, procurava alegrar. “Não há quem fique indiferente à música”, explicou. E eu sem saber que CD escolher.

Para confirmar sua teoria, ele contou a história de uma senhora de idade para quem fez a mesma costumeira pergunta e lançou um desafio: se escolhesse uma música que não estivesse nas suas malas musicais, daria a corrida de graça. A pedida foi uma moda de viola. Ele atendeu, e deu início à corrida. A senhora ficou em silêncio durante toda a viagem, e ele não sabia se tinha agradado ou não. No destino, olhou para o lado e a senhora chorava. “Essa era uma das preferidas do meu falecido marido”, confessou.

Chego ao meu destino sem conseguir escolher o que ouvir. Pago a conta, agradeço a atenção e a história e, atrasado, saio correndo para meu compromisso. Já na rua, penso que essa seria uma bela crônica. Pena que esqueci de pegar o nome do motorista. Virou o taxista DJ.

Luís Celso Jr. é jornalista, boêmio e desmotorizado.

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3 comentários em “Crônica de 2ª: o taxista DJ”

  1. Ja tentei ser um desmotorizado. Não deu certo! Aguentei 3 dias! Deixei o carro em casa e enfrentei o onibus na segunda, não gostei, demorou tanto quanto o carro, e o valor da passagem foi igual ao litro da gasolina que seria gasto. No segundo dia, fui de carona, ótimo! Não paguei nada, mas fiquei com dor na consiencia pela boa vontade do amigo. No terceiro dia, pensei na bicicleta! o problema é que sou advogado, ou seja, 10KM e muito suor! não dá! Parabéns aos que conseguem ser desmotorizados!!!

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