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Festival Brasileiro da Cerveja 2016 – parte 2

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O Festival Brasileiro da Cerveja 2016, que aconteceu entre 9 e 12 de março em Blumenau (SC), foi marcado pela alta qualidade das cervejarias presentes e a criatividade dos cervejeiros. As receitas tiveram uma excelente dose daquela “loucura” que mistura vários ingredientes e cria uma bebida inusitada, fora do lugar comum da cerveja. E isso é ótimo!

A premiação do concurso do Festival Brasileiro da Cerveja também ajudou, visto que muitos dos que frequentam o evento balizaram suas escolhas de cervejas e cervejarias pelos prêmios. Foram inscritos mais de 1,6 mil rótulos de 222 cervejarias e entregues prêmios em 137 categorias. Entre os estados, Santa Catarina ficou em quarto lugar com 27 medalhas. Rio Grande do Sul, com 79 medalhas, ficou em primeiro, seguido de São Paulo e Paraná, com 49 e 39 medalhas, respectivamente.

Em termos de números, o festival divulgou ao G1 um faturamento total de R$ 3 milhões, em cervejas, ingressos e alimentação. O público total nos quatro dias de evento foi de 41 mil pessoas, aumento de 18,27% em relação à edição 2015. Uma das novidades em termos gerais foi a abertura do terceiro pavilhão do Parque Vila Germânica com a 1ª Feira da Cerveja, com insumos e equipamentos para quem trabalha no setor cervejeiro.

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As cervejas do Festival Brasileiro da Cerveja

As cervejarias colocaram a pá no mosto e não mediram esforços para agradar tanto os paladares mais excêntricos quanto os mais tradicionalista. Algumas cervejarias se destacaram por elevar esses esforços para outro nível. Foi o caso da cervejaria Heilige, de Santa Cruz do Sul, (RS), que levou o título de segunda melhor cervejaria do ano. Eles fizeram uma parceria com uma cervejaria que está começando, chamada de Suricato Ales, que é responsável pelas receitas que fogem ao comum. Ao total foram servidos 44 estilos diferentes, divididos em 12 torneiras, nos 4 dias de FBC. Eles faturaram 10 medalhas no total.

Me arrependi um pouco de ter ficado apenas os dois primeiros dias no evento e não ter conseguido provar tantas cervejas da Heilige e Suricato quanto gostaria.

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A influência das cervejas gringas eterizou com tudo esse ano no Festival Brasileiro da Cerveja e vimos muitas cervejas maturadas em barril, sours, berliners, brettanomyces em vários estilos. O que ano passado era visto como tendência em poucos stands, esse ano estava mais consolidado e aparecia na grande maioria deles. Estilos que antes só eram encontrados no exterior, apareceram com fabricação nacional e mostraram que estão prontos para conquistar o mercado. Destaque para a Flanders Red Ale da Cervejaria Burgman (SP) e Maniba (RS), essa última a eleita Melhor Cerveja do concurso.

As maturações em barris de vinho também ganharam muitos novos rótulos, mas não tem como não voltarmos a nossa menção a bem equilibrada Saison Au Vin, da Tupiniquim (RS), eleita pela segunda vez consecutiva a Melhor Cervejaria do Ano, e a Dama Reserva 6, da cervejaria de Piracicaba (RS), sucessora da versão 5, também medalhista no concurso.

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Ainda mais madeiras fizeram a cabeça de quem foi ao estande da popular Bodebrown (PR), sempre cheio. Além da super alcoólica Ice-Perigosa, uma Imperial IPA que passa por processo de congelamento, semelhante às Eisbocks, provei lá uma das melhores cervejas do evento: Atomga Cherry, uma Russian Imperial Stout madurada em carvalho acrescida de cerejas. Divina!

Os cervejeiros ciganos também estiveram muito bem representados por ótimas cervejas, muitas delas premiadas. Palta, Satélite, Pero Libre, Urbana, Juan Caloto, DUM Cervejaria, Ogre Beer, Coruja, Morada, Cathedral, WKatz, Jokers, Júpiter, Suméria, Ignoru’s, RedCor  foram algumas.

Ainda falando de premiação, um ponto para a análise posterior é a evolução geográfica da distribuição das medalhas. Apenas na região de Jundiaí e Itupeva, no interior de São Paulo, foram 13 medalhas: 5 para Blondine, 5 para ciganos que fabricam na Blondine, 1 para Dádiva e mais 2 para ciganos que produzem na Dádiva. Um grande destaque.

Impossível falar de todas e de tudo que gostaríamos. Nem é possível provar todas (foram 123 cervejaria nessa edição, com estandes bem recheados). No primeiro post do evento, já mencionamos algumas que degustamos por lá. Algumas outras estão abaixo:

Way Beer – Outras Sours, como a já citada Gose, fizeram a cabeça do pessoal que frequentou o estande. A Berliner Weisse Hopped, uma sour alemã com dry hopping, e a Saison em barris de vinho tinto, estavam muito boas.

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Bastards – Aqui provamos a Jean Le Blanc Sour, versão ácida da Witibier que conquistou o prêmio de segunda melhor cerveja em 2015, muito leve e agradável. Espero que vejamos mais experimentações como essa em breve desse pessoal que sempre surpreende.

Blondine – Com cinco medalhas para cervejas próprias, mais cinco medalhas para cervejarias ciganas que produzem na fábrica, a Blondine se destacou. Uma das novidades que trouxeram foi a recém-lançada Papito, do músico Supla, uma India Pale Lager bastante equilibrada e de alto drinkability, com uma bela e generosa lupulagem que lembra frutas tropicais, mamão papaya e melão.

Lake Side Beer Lambic-Style – Você já deve ter ouvido que Lambic só se produz na Bélgica. Isso é verdade. No entanto, o guia de estilos da Brewers Association deixa margem para fabricação de cervejas de fermentação espontânea em outras partes do mundo, desde que sejam classificadas com o Lambic-Style, ou seja, “tipo lambric”. Foi esse o prêmio que a Lake Side Beer, gaúcha especializada em cervejas sem glúten, ganhou com essa cerveja, com acidez equilibrada e muito aroma derivados de brettanomyces, como couro.

>> Confira nossa lista de cervejas sem glúten

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Bohemia, Wäls e Colorado – Estive nos estandes provando a Wäls Cuvée Carneiro, uma delícia maturada por três anos em barril de carvalho francês, e as novas cervejas da Bohemia. Considerando que são cervejas para um público de entrada, achei muito boas. A 14-Weiss, uma versão mais leve do estilo (quase diria uma session Weiss), com baixo corpo, notas de banana e leve cravo; a Aura Lager, uma Vienna Lager bem legal, com boa tosta e equilibrada; e a 838 Pale Ale, com boa base de maltes, toffee e caramelo, equilibrados por leve toque de lúpulo.

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Brasil Kirin – Destaque para as Baden Baden especiais para o evento. Uma Stout e uma Red Ale envelhecidas em barris. Provei super rápido e vou ter que experimentar novamente para dar mais detalhes.

Polêmica

Alguns poréns continuam a se repetir, como o preço alto das doses de 100ml e das bebidas não alcoólicas – inclusive água! As opções de comidas também eram um tanto quanto limitadas com pratos fritos, pesados e com preços altos. No entanto, a maior polêmica ficou por conta da abertura do pavilhão extra, pertencente a Eisenbahn, hoje marca do grupo Brasil Kirin, no sábado, dia de maior movimento no Festival Brasileiro da Cerveja.

A notícia, que originalmente apareceu em alguns corredores do evento, dizia que o pavilhão seria aberto com quatro cervejas da Eisenbahn e bandas. Isso motivou os cervejeiros a fazerem um protesto e a divulgação de uma nota de repúdio por parte da Abracerva (Associação Brasileira de Cerveja Artesanal).

“A organização, sem aviso prévio dirigido aos expositores, alterou a programação contratualmente prevista, abrindo, no dia de maior movimento do evento, um espaço exclusivo para uma grande cervejaria, em contrariedade às regras de padrão de stands e espaços que foram impostos aos demais expositores, o que contraria a essência e razão de ser do próprio festival. As microcervejarias questionam se o festival deixou de ser a vitrine das micros, para ser mais um panfleto das grandes corporações”, diz a nota (confira na íntegra no site da Revista Beer Art).

Para entender melhor, tal abertura, poderia diluir o público e comprometer o faturamento das pequenas cervejarias.

Logo em seguida, houve a divulgação de uma nota oficial da organização do evento, na qual se avisava que o pavilhão 4 não seria mais aberto e sua programação seria transferida para outros setores. Também enfatiza que “na noite da última sexta-feira (11), em negociações com os expositores, atendemos prontamente à solicitação de abrir o setor 4 (Biergarten), porém sem a comercialização de bebidas alcoólicas. No entanto, fomos surpreendidos por um novo posicionamento, que culminou em manifestação, desnecessária diante dos canais permanentes de diálogo estabelecidos pela organização do Festival”, diz a nota (confira na íntegra no site da Revista Beer Art).

Como consumidores, nós do BarDoCelso.com lamentamos a situação e torcemos para um bom entendimento entre as partes para que o Festival Brasileiro da Cerveja continue sendo referência no Brasil.

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